Resposta ao amigo Epifanio

O amigo Epifanio Santos, editor do Ferramentas Foca, comentou no meu texto “Não existe fórmula para transformar o blog num negócio”. Ele levantou algumas questões que, permeiam o imaginário de boa parte dos jovens blogueiros.

Epifanio, assim como eu, gosta de discutir sobre jornalismo, por isso peço licença para respondê-lo num post. Se outros quiserem se juntar à nossa conversa, serão bem vindos.

Começo reproduzindo o comentário do colega e sigo com minhas observações:

“O Jornal do Brasil aposta fortemente na força do Adsense há algum tempo, pelo jeito o retorno é satisfatório. Nunca retiraram os banners! A Folha de S.Paulo, Estadão e UOL são portais que possuem analista de SEO trabalhando junto com jornalistas orientando-os quanto a títulos melhores para suas matérias e outras técnicas de otimização de conteúdo. A jornalista, webwritter e analista de Search Marketing Barbara Zamberlan Alvarez conhece bem a força disso tudo e já fez um trabalho voltado para jornalistas. Existe a fórmula, mas muitos ignoram ou acham que vão aprender rapidamente. Vamos ler, a leitura é o caminho! Abração”

Grifos meus.

Foto de Epifanio na tela do notebook


Concordo com você em parte:

Todos os grandes (e pequenos) jornais usam adsense ou algum programa similar. Isso não significa que os ganhos cubram os custos de produção. Significa apenas que todo trocado que entra é bem vindo. Se os resultados fossem satisfatórios, como você afirma, não haveria tantas demissões ou diminuição dos cadernos, como foi feito recentemente com o Estadão, Leia aqui.

E olha que a Folha (só lembrando que a Folha faz parte do conglomerado UOL), o Estadão e similares possuem um tráfego considerável. Diferente de 99% dos blogueiros.

Mesmo assim, a maioria dos veículos de comunicação, incluindo todos os que você citou, estão demitindo. Caso se interesse por conhecer um pouco mais sobre o passaralho (nome dado às demissões em massa no meio jornalístico), eu aconselho que leia “A revoada dos passaralhos”. 

Só pontuando que a crise não é apenas brasileira. Cito o artigo acima para trazer para a nossa realidade. Caso você queira entender o quadro mundial, aconselho a série de artigos “Jornalismo pós-indutrial - Adaptação aos novos tempos” .

Nesse dossiê, de mais de 30 páginas, preparado pelos especialistas do Tow Center for Digital Journalism, da Escola de Jornalismo da Universidade Columbia, temos a explicação para o declínio da captação de recursos destinados à produção jornalística, exemplos de algumas instituições que conseguiram contornar a situação, registros de algumas que não sobreviveram e sugestões para uma readaptação nesse novo ecossistema.

A última aposta dos grandes jornais (que começou com o New York Times) é a cobrança pelo acesso ao conteúdo pelo método conhecido como Paywall. Eu conversei com a Ana Estela Pinto, na época em que a Folha estava implantando o Paywall, e ela me contou que havia muita incerteza sobre o resultado disso.

Acabou de completar um ano que a Folha está cobrando pelo acesso ao conteúdo e, ao que parece, o saldo foi positivo (leia aqui) . O problema na publicidade online é que ela é absurdamente pulverizada. Os custos de produção do jornalismo são muito altos. Uma coisa não cobre a outra. É possível ganhar alguns trocados e, algumas vezes, é possível ganhar quantias consideráveis, mas não há fórmula para o sucesso.

Os maiores especialistas do mundo em monetização estão trabalhando em jornais como New York Times e o Wall Street Journal tentando encontrar uma solução para a relação custo versus produção de qualidade. O projeto mais eficiente até agora foi o paywall. Mas isso ainda não resolveu o problema.

Não existe possibilidade lógica de um blogueiro comum ganhar em produção e/ou qualidade, para jornais como Folha, Estadão, Globo, Zero Hora, Jornal do Brasil, A Tarde e tantos outros. Isso garante que o tráfego de um veículo como esse seja muito maior do que qualquer blogueiro pode sonhar.

Todos eles possuem seus especialistas dedicados a resolver seus problemas de ordem financeira. No entanto, as demissões continuam.

Quando falamos do blogueiro que só cozinha textos e usa técnicas de SEO, seus custos são quase zero. Ele pode até lucrar com seu blog, mas, dificilmente conseguirá sobreviver disso. Em alguns casos isolados ele até consegue, mas isso não significa que ele tenha uma fórmula. O método funcionou para ele. Dificilmente poderá ser aplicado para outra pessoa, em outra situação, outro nicho, outro público, outra região.

Em resumo, não há fórmulas. Pelo menos, não até o momento.

Mas como você disse, “Vamos ler, a leitura é o caminho!”. 

Só não acredite em quem te diz que SEO e adsense é solução para os problemas da comunicação digital. O buraco é bem mais embaixo.

Vou continuar tratando do assunto.

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