Aguardemos a militância


Depois que o Jornal da Band publicou matéria em que explicitava o acordo bilateral do projeto “Mais Médicos” (veja aqui), alguns amigos entraram em contato para perguntar se eu tinha visto a reportagem. Meio envergonhados, eles faziam de conta que sempre concordaram com a minha opinião sobre o assunto.
 Foto: Valter Campanato/ABr
Comissão mista do Congresso tem audiência pública com representantes dos médicos e do governo. A comissão analisa a Medida Provisória (MP 621/2013) que institui o Programa Mais Médicos


Explico: Em julho de 2013, quando o plano foi lançado pelo Governo Federal, eu havia dito abertamente, entre amigos, que essa era uma forma legalizada de enviar dinheiro para o governo cubano. Por mais óbvio que fosse aquela afirmação, quase ninguém concordou comigo publicamente.

Viajando pelo Brasil

A maior parte das pessoas que defendia o projeto argumentava que seria importantíssimo termos médicos cubanos atendendo nas regiões periféricas do Brasil, em especial no interior do Nordeste.

Tenho viajado por esse País há algum tempo. Eu mesmo nasci no interior da Bahia, morei em várias cidades do meu estado natal, conheço cidades do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Pernambuco, do Ceará, do Piauí, de Minas Gerais do Amazonas. Sei bem como funciona o sistema de saúde ou educacional desses locais. Não me limito ao conhecimento teórico.

Bem, alguns desses colegas que discutiram comigo conhecem grandes cidades dos EUA, Inglaterra, Espanha, Austrália. Nenhum deles conhecia (ou conhece) nenhum estado do Nordeste. Mas era eu o representante da “elite burguesa” que se mostrava contra um projeto que beneficiaria o sistema de saúde pública. Como diria uma amiga: “na prática, a teoria é outra”.

A experiência de campo

Certa vez, enquanto fazia uma reportagem na cidade de Itacaré, no interior da Bahia, presenciei uma médica tendo que tirar do próprio bolso para comprar Dipirona a fim de medicar alguns pacientes sem recurso. O posto de saúde não tinha um frasco de Dipirona. A médica, uma heroína, tinha que pagar para fazer o seu trabalho.

Trazer médicos de Cuba não resolveria. O problema era mais sério e, se eu sabia disso, o governo brasileiro também sabia. Eles não estavam fazendo isso por engano, era tudo friamente calculado.


Não dá para confundir as coisas

Fui contra a hostilização dos profissionais, afinal, eles não têm culpa, são apenas profissionais querendo exercer seu trabalho. Mas nem por isso iria fingir que não percebia o que estava acontecendo.



Não vou entrar aqui na polêmica sobre o “revalida”.

Tal qual Cassandra, eu me via numa situação em que ninguém acreditava em minhas constatações. Era tudo tão óbvio. Bastava raciocinar um pouco para perceber o que estava acontecendo.

O governo brasileiro só queria uma desculpa para repassar dinheiro ao governo cubano. Os médicos de outras nacionalidades eram uma minoria necessária para não dar na pinta. Tudo isso está gravado e documentado. Resta agora aguardar as justificativas da militância paga para isso.


José Fagner Alves Santos


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