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Aguardemos a militância
Depois que o Jornal da Band publicou matéria em que
explicitava o acordo bilateral do projeto “Mais Médicos” (veja aqui), alguns
amigos entraram em contato para perguntar se eu tinha visto a reportagem. Meio
envergonhados, eles faziam de conta que sempre concordaram com a minha opinião
sobre o assunto.
Foto: Valter Campanato/ABr
Explico: Em julho de 2013, quando o plano foi lançado pelo
Governo Federal, eu havia dito abertamente, entre amigos, que essa era uma
forma legalizada de enviar dinheiro para o governo cubano. Por mais óbvio que
fosse aquela afirmação, quase ninguém concordou comigo publicamente.
Viajando pelo Brasil
A maior parte das pessoas que defendia o projeto argumentava
que seria importantíssimo termos médicos cubanos atendendo nas regiões
periféricas do Brasil, em especial no interior do Nordeste.
Tenho viajado por esse País há algum tempo. Eu mesmo nasci no
interior da Bahia, morei em várias cidades do meu estado natal, conheço cidades
do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Pernambuco, do Ceará, do Piauí, de Minas
Gerais do Amazonas. Sei bem como funciona o sistema de saúde ou educacional
desses locais. Não me limito ao conhecimento teórico.
Bem, alguns desses colegas que discutiram comigo conhecem
grandes cidades dos EUA, Inglaterra, Espanha, Austrália. Nenhum deles conhecia
(ou conhece) nenhum estado do Nordeste. Mas era eu o representante da “elite
burguesa” que se mostrava contra um projeto que beneficiaria o sistema de saúde
pública. Como diria uma amiga: “na prática, a teoria é outra”.
A experiência de
campo
Certa vez, enquanto fazia uma reportagem na cidade de Itacaré,
no interior da Bahia, presenciei uma médica tendo que tirar do próprio bolso
para comprar Dipirona a fim de medicar alguns pacientes sem recurso. O posto de
saúde não tinha um frasco de Dipirona. A médica, uma heroína, tinha que pagar
para fazer o seu trabalho.
Trazer médicos de Cuba não resolveria. O problema era mais
sério e, se eu sabia disso, o governo brasileiro também sabia. Eles não estavam
fazendo isso por engano, era tudo friamente calculado.
Não dá
para confundir as coisas
Fui contra a hostilização dos profissionais, afinal, eles não
têm culpa, são apenas profissionais querendo exercer seu trabalho. Mas nem por
isso iria fingir que não percebia o que estava acontecendo.
Não vou entrar aqui na polêmica sobre o “revalida”.
Tal qual Cassandra, eu me via numa situação em que ninguém acreditava
em minhas constatações. Era tudo tão óbvio. Bastava raciocinar um pouco para
perceber o que estava acontecendo.
O governo brasileiro só queria uma desculpa para repassar
dinheiro ao governo cubano. Os médicos de outras nacionalidades eram uma
minoria necessária para não dar na pinta. Tudo isso está gravado e documentado.
Resta agora aguardar as justificativas da militância paga para isso.
José Fagner Alves Santos
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