Ler e escrever formam o conjunto que ajuda no desenvolvimento de uma linguagem mais rica e poderosa
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Respirei fundo, me sentei, abaixei a cabeça, comecei a falar mais baixo que o meu tom normal. Minha voz estava trêmula por conta da raiva que eu estava sentindo. Não é elitismo, ou talvez até seja, mas eu não consigo admitir uma criatura com um bacharelado em comunicação que não articula duas frases compreensíveis. O comunicador que não sabe comunicar. O pior é que esse não é um caso isolado. Tenho visto com certa frequência – muito maior do que eu gostaria, diga-se de passagem – pessoas da área de comunicação que, no desespero de parecerem modernas, sacrificam a boa comunicação em nome de gírias, estrangeirismos, cacoetes verbais, vícios de linguagem e certo nível de burrice.
Sempre tive a impressão de que o problema está na falta de leitura. Existe um papo entre os “especialistas” de que nunca se leu tanto como na era da internet. Sim, nunca se leu tanto. Mas o que será que as pessoas estão lendo? Mensagens no Facebook, textos publicitários, 140 caracteres no Twitter. E a leitura de fôlego? Os textos mais longos e mais bem trabalhados? E o cultivo da língua?
Nossa, que papo chato para um cara que escreve num blog! Pode ser. Posso ser chato, apesar da minha dose de informalidade, dos meus erros crassos na nossa língua materna, da minha falta de conhecimento gramatical. Mas o fato é que faço um esforço mínimo para tentar estabelecer contato e gerar o mínimo de compreensão sobre o que estou tentando dizer para as pessoas que me leem ou que me ouvem.
Acredito que as minhas leituras constantes contribuam com minhas habilidades de comunicação, não que eu seja um grande comunicador, não me entenda mal, mas ao menos não estou grunhindo sons indecifráveis ao tentar dialogar. É na escrita que desenvolvemos as figuras de linguagem, as nuances dos termos. Ou, como diria Mário Vargas Llosa em seu ensaio, "Em defesa do romance" (que pode ser lido aqui):
Uma pessoa que não lê, ou que lê pouco, ou que lê apenas porcarias, pode falar muito, mas dirá sempre poucas coisas, porque para se exprimir dispõe de um repertório reduzido e inadequado de vocábulos. Não se trata apenas de um limite verbal; é, a um só tempo, um limite intelectual e de horizonte imaginário, uma indigência de pensamentos e de conhecimentos, porque as ideias, os conceitos, mediante os quais nos apropriamos da realidade e dos segredos da nossa condição, não existem dissociados das palavras, por meio das quais as reconhece e define a consciência. Aprende-se a falar com precisão, com profundidade, com rigor e agudeza, graças à boa literatura, e apenas graças a ela.
Meu colega percebeu a minha impaciência e parou de falar. Ficou me olhando de um jeito interrogativo. Eu me lembrei de Patropi, um personagem criado pelo humorista Orival Pessini, que se dizia estudante de comunicação, se vestia como um hippie – com direito a bolsa de couro e tudo – e que sempre soltava frases desconexas.
Meu colega, já meio impaciente por conta do meu silêncio, perguntou: tá entendendo o bagulho? E eu respondi, em referência ao personagem, em tom jocoso: “seus problemas são problemas seus!” E ele treplicou: “pode crer!”.
José Fagner Alves Santos
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