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Conteúdo: Replique menos, produza mais
Para criar um blog você precisa ter o que dizer. Não seja um jornalista que só faz cozinhar conteúdo alheio.
Imagem construída com suporte do BitsStrip
Produzir conteúdo ou simplesmente replicar o que já foi publicado? Qual a melhor opção? Você criou um blog e está com dificuldades de produzir? Não seria o caso de pensar antes? Se você não tem o que dizer, é melhor que não crie um canal de comunicação com o público.
Por mais absurda que possa parecer a ideia, ainda tem gente que acha o blog um meio de comunicação amador e muito inferior aos jornais impressos. Um dos motivos é que, criar um é muito fácil. É possível começar a publicar seu conteúdo em 15 minutos, com um custo próximo ou igual a zero. Publicar um jornal, por outro lado, exige gastos bem maiores com diagramação, edição, gráfica e distribuição. Por conta disso, o processo de seleção para se trabalhar num jornal impresso costuma ser mais complexo do que criar um canal de comunicação digital do zero.
Mas, para sermos justo com os blogueiros, apesar de existir muito lixo publicado em blogs, canais do Youtube e podcasts, muito conteúdo de alta qualidade só chegou ao nosso conhecimento graças à revolução digital. A audiência de muitos blogs chega a ser o dobro de alguns jornais de médio porte. Alguns poucos se comparam aos jornalões e grandes portais de conteúdo.
Particularmente, acho isso maravilhoso. Temos acesso a uma quantidade de informação infinitamente superior ao que tínhamos há vinte ou trinta anos. O problema é que vejo muitos colegas – e estou falando aqui de jornalistas com formação acadêmica – que criam blogs para escrever sobre o que eles chamam de cultura pop. Ah, Fagner! Mas que preconceito. Por que eu não posso falar sobre o que eu quero?
Na verdade, você pode. Não há problema nenhum. Mas, nós jornalistas, fomos treinados a buscar – sempre que possível – as fontes primárias. Jornalismo é novidade, é furo de reportagem, é entrevista exclusiva, é conteúdo inédito. Ah, mas eu posso replicar conteúdo. Todo mundo faz. A maior parte dos blogs que eu leio são de conteúdo replicado. Afinal, criação de conteúdo inédito custa dinheiro e dá mais trabalho.
É verdade. Tudo isso é verdade. A questão é exatamente essa. Eu vejo muita gente replicando conteúdo e poucos produzindo algo inédito, e esses é que estão pautando todo o resto. Você pode argumentar que sempre existem os canais e blogs alternativos. E isso também é verdade. Mas, como o próprio nome diz, são alternativos. O grosso do que vemos ainda é mais do mesmo.
Sei que pareço um chato batendo sempre na mesma tecla, mas vou contar uma história para que você entenda o meu aborrecimento: um colega, que mora na cidade em que eu nasci, resolveu criar um blog para falar dos eventos culturais daquele município e região. Como o blog começou a crescer, ele resolveu expandir o conteúdo e criar, também, um canal no Youtube. Até aí, tudo bem. Eis que, quando estreou o filme dos Vingadores, ele resolveu gravar um vídeo comentando o filme. Detalhe: Não existe cinema naquela cidade, nem mesmo na região. Ele não havia assistido ao filme. Suas opiniões eram baseadas nas resenhas que outras pessoas haviam publicado na internet.
Ah, antes que você venha dizer que ele pode ter assistido a alguma versão pirata, posso garantir que não foi o caso. Ele mesmo confessou para mim que ainda não tinha visto o filme e se mostrou indignado pelo fato de eu não ter feito esforço para assistir, já que eu estava morando em São Paulo.
Refaço a mesma pergunta que já fiz antes: por que eu devo acessar o seu blog para obter uma informação copiada de outro lugar se eu posso ir direto à fonte?
Seu conteúdo pode ser respaldado pela visão que você tem do mundo. Essa visão pode ser muito interessante para os seus leitores. E você vai precisar se basear no que já foi publicado. Até aí, nada demais. Basear essa opinião na opinião de outro sem nem conhecer o assunto comentado é desonestidade, para dizer o mínimo.
Pense nisso da próxima vez que for produzir o seu conteúdo.
José Fagner Alves Santos
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