Ipiaú
Exemplo de caráter
Quantas vezes o amigo leitor já leu: “Ipiaú – cidade modelo”? Quantas vezes, esse mesmo leitor se perguntou o motivo de tal designação. A cidade parece estar estagnada já há certo tempo. Alguns pessimistas poderiam até mesmo alegar que a cidade parece diminuir, mas a verdade é que a cidade teve seus tempos áureos.
Ipiaú não tem atrativos turísticos que possam dar sustento ao comércio; tampouco é um pólo industrial.
A base da economia sempre se sustentou na agricultura, mas ao que parece, desde o súbito aparecimento da vassoura de bruxa, temos tentado esquecer este fato.
Houve em Ipiaú, um homem, um sonhador utópico, que via esse potencial agrícola e apostava seriamente nesse filão. Queria criar uma cidade modelo de desenvolvimento, com uma agricultura sólida, um sistema de educação de qualidade, seu nome? – Euclides José Teixeira Neto.
Dr. Euclides, como ficou conhecido, era de ideologia socialista[1], e não são poucos os que se utilizam deste fato para justificar sua hombridade, no entanto Dr. Euclides era um homem íntegro por natureza. Daqueles que servem de exemplo para as gerações vindouras[2].
Suas inúmeras benfeitorias elevaram Ipiaú à condição de cidade modelo de desenvolvimento no estado da Bahia (1966). Entre suas reformas a mais famosa é sem sombra de dúvida a Fazenda do Povo.
Sobre o projeto Fazenda do povo, Dr. Euclides escreveu que “nasceu da vontade de fazer uma experiência socialista, sem ficar somente na proveta do laboratório de sociologia e política".
Sua postura ideológica, no entanto está presente em toda sua obra literária. Em seu livro O Patrão (1978), Dr. Euclides conta a história de Tomás, o vaqueiro do Senhor Cassemiro, que se vê sem alternativas e acaba se apossando do dinheiro da venda de uma das vacas de seu patrão para poder arcar com as necessidades básicas em casa.
Em casa eram dez bocas para dar de comer; com ele e a mulher, doze. Bem verdade, que poderia tirar uns litros de leite, a fim de completar a ração; mas, na hora de comprar o metro de pano, a coberta dorme-bem, uma bobagem qualquer, cadê o dinheiro? Quando os meninos eram menorezinhos, iam ficando buguelos, as meninas com calcinhas encardidas. As mais velhas – por falta de sorte eram as fêmeas – já tinham virado mulher. Queriam vestidos e não podiam aparecer assim sem roupa.(TEIXEIRA NETO, Euclides José. O Patrão. Salvador 1978. P. 05)
Dr. Euclides era desses homens capazes de dar sangue pelos seus sonhos, ou como bem definiu Albione Souza Silva e Sandra Regina Mendes, um visionário.[3]
REFERÊNCIAS
JORNAL DE IPIAÚ, Ipiaú 22 de dezembro de 1966, p. 1, 3, 6
CARVALHO, Olavo de. O imbecil coletivo. São Paulo 1995, p. 325
TEIXEIRA NETO, Euclides José. O Patrão. Salvador 1978.p. 5
[1] O Dr. Euclides Neto não foi o primeiro prefeito comunista do país. Muito antes dele houve o famoso escritor Graciliano Ramos. Graciliano Ramos, Relatórios, organização de Mário Hélio Goulart de Lacerda (Editora Record ).
“‘Resolvemos editar os relatórios porque eles sempre despertaram muito interesse entre os amantes da obra de Graciliano, principalmente na época do impeachment de Collor, quando a discussão sobre ética veio à tona’, explica o editor Sérgio Machado, da Record.” Jornal do Brasil, 23 dez. 1994.
“‘Resolvemos editar os relatórios porque eles sempre despertaram muito interesse entre os amantes da obra de Graciliano, principalmente na época do impeachment de Collor, quando a discussão sobre ética veio à tona’, explica o editor Sérgio Machado, da Record.” Jornal do Brasil, 23 dez. 1994.
[2] NA ÉPOCA DO IMPEACHMENT de Collor, os Relatórios da gestão Graciliano Ramos na Prefeitura dePalmeira dos Índios — inseridos no volume Viventes das Alagoas e reeditados agora em volume independente— foram muitas vezes citados para lembrar ao público, em contraste com a indecência presidencial, umexemplo clássico de probidade administrativa, adornado, ademais, de um dos mais belos estilos literários dalíngua portuguesa.
. A lição edificante, porém, trazia nas entrelinhas uma mensagem política enviesada: Graciliano não comparecia ali apenas como administrador impecável e artista sem mácula, mas como um emblema da superioridade moral da esquerda.
Sua figura ajudava a conferir à luta contra a corrupção a subtonalidade ideológica desejada, sem a qual a campanha moralista arriscava produzir o mais temível dos resultados: levar ao poder um punhado de direitistas honestos. A imagem de Graciliano foi levantada para exorcizar esse fantasma.
O exemplo, no entanto, impressionava antes pela raridade. A direita, fértil em corruptos célebres, possui também em sua galeria de antepassados emblemáticos uma coleção notável de governantes íntegros, como por exemplo, o marechal Castelo Branco, incapaz de usar o dinheiro do governo para comprar sequer um envelope de aspirina, ou Pedro II, governando durante quarenta anos desde dentro de um mesmo terno surrado. Mais à direita ainda, não se encontrará a menor mancha na reputação administrativa de Salazar, de Marcelo Caetano ou de Francisco Franco. Mas a vida de todos os grandes líderes comunistas, sem exceção, é uma história escabrosa. Karl Marx teve com a empregada um filho que, em prol da decência burguesa, jamais foi admitido à mesa da família. Lênin começou sua carreira vendendo a Rússia à Alemanha em troca de um trem blindado. Stálin custeava orgias com o dinheiro público, e Mao Tsé-tung,como se revelou há pouco, comia até os guardinhas do Palácio — entrando, literalmente, para os anais da Revolução. Luís Carlos Prestes, Robin Hoodao contrário, roubou do Terceiro Mundo para dar ao Comintern; e, no governo João Goulart, quando os comunistas proclamavam estar no poder, o amigo do presidente não era o trapalhão P. C. Farias, mas um gêniodo tráfico de influência, Tião Maia, que após a queda de seu protetor comprou a vigésima parte do território da Austrália, onde é hoje a quarta maior fortuna do país. Quando lhe perguntam “Como?”, ele responde: “O Banco do Brasil foi uma mãe para mim.” (CARVALHO, Olavo de. O imbecil coletivo. São Paulo, 1995)
. A lição edificante, porém, trazia nas entrelinhas uma mensagem política enviesada: Graciliano não comparecia ali apenas como administrador impecável e artista sem mácula, mas como um emblema da superioridade moral da esquerda.
Sua figura ajudava a conferir à luta contra a corrupção a subtonalidade ideológica desejada, sem a qual a campanha moralista arriscava produzir o mais temível dos resultados: levar ao poder um punhado de direitistas honestos. A imagem de Graciliano foi levantada para exorcizar esse fantasma.
O exemplo, no entanto, impressionava antes pela raridade. A direita, fértil em corruptos célebres, possui também em sua galeria de antepassados emblemáticos uma coleção notável de governantes íntegros, como por exemplo, o marechal Castelo Branco, incapaz de usar o dinheiro do governo para comprar sequer um envelope de aspirina, ou Pedro II, governando durante quarenta anos desde dentro de um mesmo terno surrado. Mais à direita ainda, não se encontrará a menor mancha na reputação administrativa de Salazar, de Marcelo Caetano ou de Francisco Franco. Mas a vida de todos os grandes líderes comunistas, sem exceção, é uma história escabrosa. Karl Marx teve com a empregada um filho que, em prol da decência burguesa, jamais foi admitido à mesa da família. Lênin começou sua carreira vendendo a Rússia à Alemanha em troca de um trem blindado. Stálin custeava orgias com o dinheiro público, e Mao Tsé-tung,como se revelou há pouco, comia até os guardinhas do Palácio — entrando, literalmente, para os anais da Revolução. Luís Carlos Prestes, Robin Hoodao contrário, roubou do Terceiro Mundo para dar ao Comintern; e, no governo João Goulart, quando os comunistas proclamavam estar no poder, o amigo do presidente não era o trapalhão P. C. Farias, mas um gêniodo tráfico de influência, Tião Maia, que após a queda de seu protetor comprou a vigésima parte do território da Austrália, onde é hoje a quarta maior fortuna do país. Quando lhe perguntam “Como?”, ele responde: “O Banco do Brasil foi uma mãe para mim.” (CARVALHO, Olavo de. O imbecil coletivo. São Paulo, 1995)
0 comentários