Manual do bom aluno



Peço desculpas ao amigo que, cansado de toda essa retórica se vê novamente diante de um texto sobre o mesmo assunto de sempre. Mas, é que eu, como criatura pedante e cheia de complexos de superioridade que sou, tenho dificuldades para ser bem aceito nas rodinhas acadêmicas. 

Por esta e outras razões venho anotando passo a passo o comportamento dos acadêmicos, a fim de finalmente conseguir a aprovação desse grupo seleto. 

Aqui vão algumas dicas:

  • Não leia os textos sugeridos pelo professor para desenvolvimento em aula (mas, não leia de jeito nenhum), ou será taxado de pedante e inconveniente.

  • Se por algum motivo já tiver lido o texto, não demonstre conhecimento sobre o tema ou sobre o autor ou dirão que você tem complexo de superioridade.

  • Se por acaso não resistir e acabar comentando algo, jamais discorde do autor (principalmente se for a Marilena Chauí, o Leonardo Boff, o Emir Sader ou frei Beto), apenas balance a cabeça afirmativamente para qualquer sandice explícita ou implícita, mesmo se o autor em questão afirmar que “(...) a palavra “racial” surge apenas no século XIX, particular- mente com o francês Gobineau, que, inspirando- se na obra de Darwin, introduziu formalmente o termo “raça” para combater todas as formas de miscigenação, estabelecendo distinções entre raças inferiores e superiores com base em características supostamente naturais.”

  • Nem adianta provar que tais argumentos sobre superioridade racial já estavam mais que explícitos em “A origem das espécies de Charles Darwin”. No máximo você será visto como um ignorante que não sabe ler nas entrelinhas.

  • Caso não possua poderes divinatórios não adianta tentar entender o pensamento do autor lendo seus textos. O sentido do que normalmente esses autores dizem não está nos seus escritos e sim em alguma subjetividade que só pode ser alcançada pelo poder metafísico que só os professores têm.

  • Caso você tenha passado os últimos 16 anos da sua vida estudando um assunto, entenda que a opinião de alguém que nunca leu uma única linha sobre o tema tem o mesmo valor que a sua. 

  • Não tente mostrar através de fatos que dois mais dois é igual a quatro. Se alguém discorda e diz que é cinco e você insisti em provar, será visto como um autoritário que quer impor sua superioridade cultural aos outros, um indivíduo sem caráter que não respeita a opinião alheia.

  • Caso aconteça de o professor esbravejar histericamente contigo para poder firmar algo infundado que ele esteja defendendo, seus colegas dirão que você perdeu a compostura e continua com a mania de nunca reconhecer que está errado. Portanto, evite ao máximo conflito direto.

  • Caso comecem a falar mal do capitalismo, não alegue que o sistema socialista é muito pior, pois assim, mostrará sua incompreensão do tema assim como seu partidarismo elitista-burguês.

Acho que se seguirmos direitinho essas normas, poderemos até não aprender nada, mas certamente nos darão títulos de bacharel ao final do curso.

Você também pode gostar

0 comentários