Imprensa forte faz falta no Sul da Bahia


O problema da alta criminalidade no Estado da Bahia é fruto de uma sucessão de descasos e omissões. A falta de uma imprensa forte que fiscalize o poder público impossibilita o desenvolvimento econômico num estado repleto de riquezas naturais.

Imagem: Bill Owen - Sxc.hu
O problema da alta criminalidade no Estado da Bahia é fruto de uma sucessão de descasos e omissões. A falta de uma imprensa forte que fiscalize o poder público impossibilita o desenvolvimento econômico num estado de repleto de riquezas naturais.

O blogueiro, palestrante e podcaster, Luciano Pires publicou um artigo intitulado “A guerra interminável”. Nele, Luciano faz uma análise sobre a taxa de assassinatos anuais ocorridos no Brasil, comparando com outros países como Noruega, Estados Unidos, França e Portugal.

Nossa situação, em comparação com esses países, não é das melhores. Para piorar, dentro do Brasil existem diferentes taxas de homicídios de acordo com cada região.

Em determinado ponto do texto o articulista se pergunta o por quê dessas diferenças entre os números de homicídios no Estado de São Paulo em comparação com a Bahia:




"Será porque São Paulo é o estado que mais prende? Segundo o Anuário de Segurança Pública, São Paulo tem 633,1 presos por 100 mil habitantes com mais de 18 anos. No Rio, com quase duas vezes mais mortos por 100 mil que São Paulo, a taxa é de 281,5 presos. A Bahia, que tem três vezes mais mortos por 100 mil que São Paulo, prende 134,6."

Acho que a questão do número de presos não é tão simples assim. Vejo que, neste ponto em especial, falta informação para o restante do País.



RAIO A E RAIO B

Na região Sul da Bahia, onde eu nasci, a criminalidade é controlada por duas facções: "Raio A" e "Raio B". Venho trabalhando numa reportagem, por conta própria, sobre esse assunto há mais de um ano.

Descobri que as duas facções foram criadas após a ruptura de um tentáculo do PCC que funcionava entre Ilhéus e Itabuna (cidades do interior ao Sul da Bahia). Hoje os dois grupos são sediados dentro do Presídio Ariston Cardoso. Qualquer novo detento que é levado para lá precisa escolher a qual dos dois grupos vai participar. Não há terceira opção, ou melhor, há, é a morte.

Depois que o infrator cumpre a pena e é solto, começa a servir como braço de um dos dois grupos fora da cadeia. Em caso de tentativa de deserção, é necessário desaparecer e levar junto toda a sua família e amigos.

Presenciei o caso de uma pessoa que tentou fugir e o filho foi enterrado vivo, de cabeça para baixo. Encontraram o corpo por conta das pernas que ficaram de fora. Era um menino de 16 anos.

Atentados à escola e tiroteios no meio da noite eram uma constante durante os 4 meses que passei em Itacaré, apurando para a reportagem. Minha mãe ainda mora lá e exatamente por isso tenho me sentido um tanto receoso por conta de tudo isso. Alguns importantes veículos de comunicação mostraram interesse por publicar a reportagem, mas tive que desistir por duas vezes por conta de ameaças que recebemos, vindas de dentro do presídio.


VASSOURA DE BRUXA

Desde que um prefeito, do Partido dos Trabalhadores, disseminou a vassoura de bruxa, na região (veja aqui), a lavoura de cacau, principal fonte de renda do Estado, faliu.

A região nunca mais foi a mesma. O número de pessoas que migraram durante esse período é significativo.

Ficaram os idealistas e quem não tinha como sair. Região da Zona da Mata sempre teve mais pessoas chegando do que saindo. Hoje isso se inverteu. Há uns 5 anos, aproximadamente, chegou à minha cidade natal, Ipiaú (nas imediações de Ilhéus e Itabuna), uma empresa de mineração que prometia vagas de emprego, benefícios em infra-estrutura e outros dividendos. O principal problema é que os trabalhadores da região não possuíam qualificação para o trabalho com minério.

A solução foi a importação de mão de obra. Aumentamos o contingente demográfico e continuamos com o grosso da população local desempregada. São vários os problemas nessa linha. Não seria possível expor todos num único artigo.

O fato é que existe um descaso evidente com as regiões do Nordeste. A falta de policiamento e de presídios é só a porta do Iceberg. De qualquer modo, sou obrigado a concordar com o Luciano em todo o restante do artigo. Se ao menos tivéssemos uma imprensa mais forte naquela região...

Jota Fagner

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