O inicio da Utopia









Recentemente tenho recebido um punhado de perguntas sobre socialismo e capitalismo. São e-mails exaltados que, na grande maioria se utilizam mesmo que sem saber do estratagema número sete da dialética erística de Schopenhauer (bombardeio de perguntas diferentes, não dando tempo ao interrogado de responder sequer a primeira, quebrando indefinidamente sua linha de raciocínio).

Sendo assim, resolvi explicar aqui algumas coisas. Uma seqüência de 10 pequenos artigos explicando como todo esse credo em volta do socialismo e de como ele começou.

Os artigos serão didáticos em linguagem muito simples para que eu não tenha que ficar re-explicando cada tópico.

Comecemos hoje com a chamada utopia:
Nossa história começa com Thomas Morus ou Thomas Moore.

Thomas Morus é uma forma alatinada porque é literariamente conhecido Thomas Moore, Grande Chanceler da Inglaterra, nascido em Londres em 1478 e decapitado em 1535.

Nesse período o comércio e a indústria da Inglaterra não tinham muita expansão. Era um período pré-Vasco da Gama e Colombo. E assim, as gerações se sucediam sem finalidade, sem trabalho e sem pão. 

A agricultura estava em ruínas desde que a nascente indústria da lã, prometendo lucros espantosos, fez com que terras imensas fossem transformadas em pastagens para carneiros. Em conseqüência disto uma multidão de camponeses viu-se reduzida à miséria, trazendo uma multiplicação de mendigos, ladrões e assassinos. 

A lei inglesa era muito dura, punindo com a morte, ladrões, vagabundos e assassinos, sem distinção.

Foi pra criticar esse estado de coisas que Morus escreveu sua obra máxima entre 1515-16.
Do grego topos, lugar, e u, nenhum; Utopia era um lugar onde todos eram felizes porque não haviam propriedades privadas.

Depois de ter, na Utopia, zombado todas as instituições da época, Morus edifica uma sociedade imaginária, ideal, sem propriedade privada, com absoluta comunidade de bens e do solo, sem antagonismos entre a cidade e o campo, sem trabalho assalariado, sem gastos supérfluos e luxos excessivos, com o Estado como órgão administrador da produção, etc.
O livro é um romance sobre uma sociedade supostamente ideal.

Morus deve muito a Platão e influenciou Rousseau e Marx. Este último zomba do socialismo utópico, mas esquece que Morus funda seu regime (socialismo? Comunismo?) no mesmo principio dele, que é o fim da propriedade privada. A diferença é que no tempo de Morus o capitalismo estava nascendo, e com Marx, já consolidado, era mais fácil fazer a sua teoria.
O problema é que este livro de Morus é isolado na sua obra. 

Ele foi ministro da justiça de Henrique VII, mas nada fez para abolir a propriedade privada.
A obra é cheia de brincadeira, o rio se chama Anidro (= sem água) o narrador Hitlodeu (=autor de disparates).

Seria a Utopia só um exercício de estilo, caro aos humanistas da renascença como hoje sugere Quentin Skinner?

Embora o caráter essencialmente imaginário e quimérico da Utopia, a obra de Morus fica na história do socialismo como a primeira tentativa teórica da edificação de uma sociedade baseada na comunidade dos bens. E o seu nome ficou para sempre incorporado ao vocabulário universal como o significado do todo sonho generoso de renovação social, ou como diz um trecho ao final do livro:

O que, sobretudo transtornava todas as minhas idéias era o alicerce sobre que foi erguida esta estranha república, quero dizer, a comunidade de vida e de bens, sem tráfico de dinheiro. Ora, esta comunidade destrói radicalmente toda nobreza e magnificência, todo esplendor e majestade coisas que, aos olhos da opinião pública, fazem a honra e o verdadeiro ornamento de um Estado.

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