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Jornalismo independente com fontes viciadas
Jornalismo independente é uma utopia que continua sendo defendida por entendidos no assunto. Utopias são importantes para que continuemos nosso processo evolutivo, só não podemos perder o senso de realidade.
Durante o período de oba oba sobre o projeto Mídia Ninja, nas manifestações de junho de 2013, eu escrevi, num artigo ( ver aqui), que nenhum veículo jornalístico é independente. Isso criou certo desconforto. Muita gente me escreveu reclamando ou duvidando da veracidade da minha afirmação.
Essas pessoas realmente acham que existe mídia independente, basta não pertencer a nenhum grande grupo de comunicação.
Sem problemas. O mundo é livre, eu acredito na diversidade de ideias e nunca tive a intenção de impor meu ponto de vista para ninguém. O fato é que, a maior parte das pessoas que acreditam na existência de uma suposta independência jornalística associa essa possibilidade a um jornalismo de militância esquerdista.
Se for militância (de direita ou de esquerda), fica subentendido que existe uma dependência, se não partidária, ideológica e na maioria das vezes financeira. Vou exemplificar: em entrevista concedida à Revista Caros amigos (edição 197, ver aqui), a professora de filosofia, Drª. Marilena Chauí dizia que:
“Ela [a internet] é monopolizada por alguns governos, mas, sobretudo, pelas empresas de armamento, petrolíferas e pelas empresas de informática (sic). Então é um conglomerado que detém o poder sobre o planeta. Se um deles baixar os botões, qualquer um fica fora. Então você pode desligar tudo e a comunicação do planeta é zerada (...).”
Sim, ela disse que alguém pode desligar a internet “se um deles baixar os botões”. Não vamos entrar na discussão etimológica do que é monopólio. A questão aqui é outra. A professora nunca ouviu falar de Deep Web. Não faz ideia de como a internet funciona, mas foi procurada para servir como fonte sobre as manifestações de junho, evento fortalecido pela existência da internet.
Tudo bem se ela se limitasse a falar sobre a questão sociológica, filosófica, antropológica. Não, ela decidiu falar sobre algo que não conhecia. E a revista publicou sem contestar.
Numa entrevista coletiva, perguntei ao Aray Nabuco, editor da revista e um dos entrevistadores, o porquê isso havia acontecido. Ele me disse que também não concordava com a argumentação dela sobre a internet, mas que precisava de alguém com uma visão de esquerda que pudesse comentar as manifestações (Ver aqui).
Em outras palavras, ele escolhia as fontes de acordo com aquilo que queria ouvir. Não estou dizendo que a Caros Amigos seja a única a fazer isso, muito pelo contrário. Todas fazem isso. Os jornais também fazem. Os sites, as emissoras de TV e rádio.
Se você nunca se deu conta, comece a observar que as fontes de destaque do veículo x ou y têm sempre uma visão condizente com o próprio veículo. Mesmo que se mostre o “outro lado” há sempre um lado que recebe maior destaque. Isso acontece no jornalismo de direita ou de esquerda.
Você pode continuar afirmando que o jornalismo N ou Z é independente, é um direito seu.
Crédito de foto: Israel Papillon/ sxc.hu
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