Qual é o seu método criativo?

Escrever é um processo de comunicação e, como tal, exige que o texto comunique algo a alguém. Para quem você está escrevendo? Para pessoas? Ou para sistemas de buscas?



Dentre todas as perguntas sobre a vida de jornalista, a que mais costumo ouvir é: “qual é o seu método de escrita?”. Só na última quinzena, cinco pessoas me perguntaram isso. Hoje, recebi uma mensagem direta, no Twitter, da minha amiga, Isabela Felix, que acrescentava questionamentos sobre SEO à pergunta. 


Como é seu processo criativo na hora de escrever? E você se preocupa com palavras chave, Google, SEO, etc?

Antes, é preciso esclarecer algumas coisas. O grosso do que eu escrevo é publicado em formato impresso, apenas uma pequena fração do que produzo (na maioria um conteúdo amadorístico, sem a devida dedicação dada aos textos que serão publicados em plataforma física) chega ao formato digital.

O motivo é muito simples: ainda não existe fórmula segura para sustentar a produção de conteúdo na internet. Não importa o que digam os gurus.

É possível citar meia dúzia de empreendimentos humorísticos que chegaram lá, mas eles são a exceção. O jornalismo sempre foi subsidiado (leia aqui), agora é preciso algo que possibilite a continuidade deste trabalho nas diferentes plataformas tecnológicas. E, acredite em mim, não serão os programas de afiliados que irão salvar essa indústria.

Como eu preciso sobreviver do meu trabalho, continuo focando nas plataformas que me garantem algum retorno financeiro. Prometi para mim mesmo que me dedicaria mais à produção de conteúdo para blogs. Pretendo fazer isso nos próximos meses para fins de exercício, mas tudo isso é assunto para um outro post.

 

ESCREVENDO PARA SERES HUMANOS


Não me preocupo com palavras chave e nem recomendo que alguém o faça. Só quando vou editar o texto é que penso nisso. Sempre existe espaço para adicionar ou mudar algo no corpo e/ou na linha fina. É só substituir um termo por um sinônimo. Tento não deixar isso forçado demais. É importante escrever para que seres humanos leiam. Não pense no seu público. Pense num leitor específico. 


Quem é o seu leitor médio? Quantos anos ele tem? Qual seu nível de instrução? Qual sua religião? Para que time ele torce? Pode parecer besteira, mas assim você consegue maior profundidade naquilo que produz, e deixa o texto mais fluido.

Se as regras básicas do jornalismo forem seguidas, não haverá necessidade de preocupação com SEO. Sempre responda às perguntas:

  • Quem?
  • Quando?
  • Como?
  • Onde?
  • Por quê?
Isso, por si só, já resolverá boa parte dos problemas com SEO e legibilidade. Não quero, com isso, dizer que seu texto deva ser engessado. O jornalismo literário responde a todas essas questões e ainda consegue se aproximar da arte literária. 

Tomemos como exemplo uma curta reportagem que fiz sobre capoeira para a Revista Juazeiro (aqui), ou uma outra sobre outsiders, escrita para a Revista Arco (aqui). Ambas respondem às 5 perguntas do lead sem deixar o texto chato ou cansativo.


TENHA UMA PAUTA

Jornalistas sempre escrevem por conta de uma pauta e um gancho. Por exemplo: Podemos responder à pergunta de alguém como é o caso do presente texto, ou você pode buscar respostas para algo que te aflige. O ideal é conversar com pessoas que pesquisam o tema, ler livros sobre o assunto, contrapor ideias. Em resumo, você vai colher dois ou mais discursos retóricos para confrontá-los, transformando tudo isso num discurso dialético.
 

Será inevitável, portanto, tirar suas próprias conclusões. Desta forma, você aproveita para apresentar sua visão sobre o assunto, as conclusões a que chegou. Esse seria o discurso lógico ou analítico, ou, se preferir, a conclusão do seu artigo. 

Para entender melhor sobre essa questão eu recomendo os

Arthur Schopenhauer
Arthur Schopenhauer
livros: “Aristóteles em nova perspectiva”, do filósofo Olavo de Carvalho (aqui) e “Como vencer um debate sem precisar ter razão”, de Arthur Schopenhauer (aqui). Se você acha que o texto deve correr livre, sem uma estrutura que o defina e, portanto, não gosta de seguir o esqueleto pré-definido de cada gênero, sinto muito em te dizer, mas você está perdendo tempo. É possível criar algo novo, mas fica mais fácil quando já se conhece as técnicas desenvolvidas, aperfeiçoadas e testadas por autores consagrados.

Há tempos estou incomodado com a escrita que vejo na web. Os textos não me estimulam, não dão prazer. E isso se explica porque uma porrada de gente escreve para os motores de busca, e isso deixa o texto cansativo.

Você não consegue ler a íntegra de um trabalho desses, no máximo, passa os olhos pelos tópicos principais. Sobre esse assunto comecei a ler “Gadget: Você não é um aplicativo”, do Jaron Janier (aqui), e descobri que a visão dele é muito parecida com a minha. 




Em resumo, a busca desenfreada pelo sucesso na internet -  quando ainda não existem fórmulas eficazes para a monetização da produção intelectual, quando o compartilhamento desenfreado de arquivos só contribui para o fim de algumas profissões - está criando possibilidades para que o patrimônio imaterial da humanidade, ou pelo menos parte dele, se perca.


LER É O COMEÇO DE TUDO



Não se iluda, a humanidade não teria chegado onde chegou se tivéssemos que reinventar a roda a todo instante. Tudo que nós construímos tem como base aquilo que já foi desenvolvido antes de nós. E isso não é diferente com a escrita. Um jornalista precisa das suas fontes, das referências bibliográficas, de técnicas que já foram criadas e aperfeiçoadas anteriormente. O mesmo pode ser dito de um ficcionista. Por mais surreal que seja, a obra sempre terá ligações explícitas ou implícitas com trabalhos anteriores.

Por isso é muito importante ler. Não só por diversão, mas também para fins educativos, para se informar, para aprender como se escreve. Já expliquei esse assunto anteriormente (aqui). 




REVISE 


E por último, mas não menos importante, revise. Releia o texto quantas vezes for necessário. Tenha alguém, algum amigo, para ler o material e apontar possíveis falhas antes de publicá-lo. Mesmo assim, você perceberá que algum vacilo sempre escapará. O importante é que você consiga diminuí-los ao mínimo possível.

É dessa forma que costumo escrever. Praticando todo dia e tendo a esperança que hoje eu consiga escrever melhor que ontem e pior do que amanhã. E você? Qual é a sua rotina? Que técnicas costuma usar? Quem você usa como referência? Compartilhe conosco suas experiências. Seu comentário poderá transformar esse monólogo numa conversa. 


José Fagner Alves Santos 



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